Yorgos Lanthimos dirige mais um filme com Emma Stone, parceria criada em A Favorita de 2018. Dessa vez Yorgos traz um filme com uma atmosfera diferente, lembrando até mesmo em vários momentos o SteamPunk e o humor mais ainda em evidência. Poor things ainda conta com Mark Ruffalo, Willem Dafoe e Ramy Youssef, todos eles interpretando personagens complexos e engraçados igualmente, mas além de Stone, Ruffalo é outro que merece destaque.
Poor Things se inicia mostrando uma cena de Bella (Emma Stone) de costas e logo corta para o filme em preto e branco, homenageando os filmes de ficção científica do começo do século XX. Também mostrando uma Bella antes de sair para o mundo, antes de mudar ter de fato uma bagagem. Ela no estado mais puro que tem. Essa primeira parte do filme é estranha logo de início, mas é tão bonita ver a mulher conhecendo o mundo como se de fato fosse uma criança e adorando cada parte disso. Principalmente o prazer. É nessa parte que o filme muda completamente principalmente com a entrada do Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), que supre o prazer inicial de Bella.
O filme então toma um ar completamente humorístico, não que já não estava, mas ainda mais. Ruffalo está hilário a cada aparição da pra ver mais como ele está se divertindo com esse papel. Mark faz comédia muito bem. Pra mim é ele quem mais chama atenção depois de Emma, eu não esperava que ele me tirasse tanta risada com o seu jeito único de tentar entender (ou não) Bella Baxter. Ele realmente acha que compreende a mulher no início e daria conta de ter ela como sua amante, mas ela não se encaixa em nenhuma regra social. Mesmo depois que ela já está mais socializada. Ela não quer se encaixar e quer ser livre. Infelizmente Duncan não está preparado para isso quando Bella mostra a verdadeira face.
O retrato feminino em Poor Things é belo e engraçado. É lindo ver como a personagem principal não se acanha para seus desejos e não obedece os desejos dos outros. Ela nem entende porque ela deveria fazer isso. Talvez apenas no terceiro ato isso aconteça, mas não por vontade própria e sim por uma força maior. A jornada inteira de Bella é linda de acompanhar e ver como ela vai se tornando um ser livre e cada ponto dela é necessário para sua história e seu conhecimento. A visão de Lanthimos sobre o feminino é muito libertadora e Emma Stone consegue passar tudo isso de uma forma engraçada e sarcástica. A sua personagem não consegue entender o mundo em sua volta e não tenta mudá-la.
Dafoe também está ótimo, mas é uma forma que já conhecemos. A abordagem paternal é interessante e não muito esperada para esse tipo de personagem. Gosto muito como o filme é cínico e inocente ao mesmo tempo. Escrevo isso com uma frase de Dr. Godwin (Willem Dafoe) quando Max McCandles (Ramy Youssef) pergunta se ele criou Bella para seu prazer sexual e ele responde que se ele tentasse algum ato sexual precisaria de energia de Londres inteira e que o sentimento paterno dele não o deixaria também. É sincero, engraçado e cínico. É tudo isso que esse filme representa com um visual maravilhoso, figurinos de tirar o ar e cenários que deixam a tela do cinema brilhando.
Um dos melhores filmes dessa Award Season, que está muito bom e que me deixou com muita vontade de assistir vários filmes esse ano. Yorgos com um filme onde deixa o inconsciente humano tomar vida, e mostrar como é importante deixá-lo às vezes tomar conta de algumas decisões nossas.